terça-feira, 1 de março de 2016

Os memes de Glória Pires e a genialidade da internet



Que o telespectador deixou de receber inerte as mensagens das emissoras não é novidade para ninguém. Na internet, o conteúdo dos programas é desdobrado, virado de ponta cabeça e rechaçado, fazendo com que seja muito mais divertido acompanhar as velhas fórmulas da TV permeadas por imagens, gifs e analogias com situações do cotidiano.

Os memes que se espalharam após a inusitada participação da atriz Glória Pires na transmissão da cerimônia do Oscar, pela Rede Globo, é só mais um exemplo desse fenômeno de conhecimento coletivo. São conteúdos que fogem das intenções das emissoras sendo produzidos por pessoas comuns, que dão uma aula para a mídia tradicional sobre bom humor e criatividade. Pessoas comuns elevando índices de audiência sem que a emissora tenha os méritos disso. Afinal, quem nunca ligou a televisão para saber mais sobre um assunto que estava "bombando" nos Trending Topics do Twitter? (e desligou em seguida por ser mais interessante acompanhar o que era produzido pelo mundo conectado).

O episódio Glória Pires nos mostra mais do que a escolha equivocada de uma comentarista. Nos leva a refletir além da transmissão do Oscar e questionar se a televisão está acompanhando as tendências que surgem na internet e que transmutam rapidamente. Até quando a mídia tradicional vai apostar nos formatos saturados em seus programas, resumindo a integração com a internet aos comentários no rodapé da atração?

Já está na hora dos meios de comunicação de massa se apropriarem verdadeiramente dessa linguagem produzida pelas multidões em âmbito virtual.

Por enquanto, fica a sensação de que há mais criativos produzindo conteúdo no sofá da sala do que nos bastidores das mídias tradicionais. A mídia somos nós e, sim, somos capazes de opinar.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Opinião: Aspas carregam rostos e vozes

Foto: Zero Hora (reprodução)

“... as notícias habitam os detalhes, às vezes empoeirados, do cotidiano. A maior parte das histórias reais vem dessa grandeza do pequeno, da delicadeza que anima cada vida humana, mesmo nas horas brutas”. A frase foi retirada do livro “Meus desacontecimentos”, de Eliane Brum, jornalista que admiro e procuro me espelhar. Sua essência aborda um tema que há muito me faz questionar os caminhos que o jornalismo (especialmente impresso) vem tomando. O modelo quadrado pautado pelas instituições (Governos, Ministério Público, Polícias e Judiciário), que faz com que repórteres apurem de dentro da redação na maior parte do tempo, precisa ser revisto. Ao ler veículos de diferentes alcances, sinto falta de histórias e de pessoas.

Parte da minha ansiedade ao migrar da reportagem para a assessoria de imprensa vinha da ausência de estrutura e prazo viável para aprofundar temas que valiam mais do que mera apresentação de fatos. Que pediam por personagens e exigiam um mergulho na vida real de quem enfrenta o problema. Não digo que não havia tentativas por parte do veículo e dos repórteres, mas que não é algo sistematizado nas redações.

É preciso valorizar o repórter que suja os sapatos na rua em busca de histórias. Histórias que vão muito além do buraco na rua. Falo da busca de personagens. As empresas jornalísticas precisam apostar em estruturas que possibilitem ao repórter o aprofundamento de suas reportagens e a coleta de histórias, o “debruçar” sobre a fonte. O povo está nas ruas, não nas redações e instituições. E o povo quer ler e ouvir sobre si.

Em minha experiência como repórter, pouco espaço havia para essa prática em vista do acúmulo de pautas e funções. A política, as pautas geradas pelas instituições públicas eram o pilar da redação. Não por acaso construí relações que me levaram à ocupar função na área governamental.

O pilar da redação era justamente ela, a editoria mais ignorada pela massa de leitores que infelizmente desconhece o que se discute em uma sessão legislativa. Cobrir política é fundamental e necessário, mas o que vemos é uma cobertura superficial atropelada por prazos, baseada no denuncismo, recheada por notas oficiais e prejudicada pela falta de acesso a documentos públicos, o que inviabiliza em parte o jornalismo investigativo  (leis de acesso à informação e da transparência a parte).

Independente de ser essencial abordar as editorias básicas do jornalismo e atender ao público politizado, considero que é urgente humanizar as páginas dos veículos. Falo, por exemplo, do que fez o “Estado de Minas” ao aprofundar de forma brilhante o rompimento da barragem da Samarco, em Bento Rodrigues, ocorrido em novembro do ano passado. Na série de reportagens “Vozes de Mariana”, os jornalistas mergulharam nas histórias dos sobreviventes e o resultado do caderno especial certamente fez com que os leitores sentissem um pouco do que as vítimas sentiram. Foi muito além de contar fatos alternados de alguns poucos relatos e de uma nota oficial por parte da Samarco.

Não é a toa que a informação “institucionalizada” afasta leitores, que migram para as páginas de polícia e variedades. Talvez porque alguns não se enxergam nas demais, nem ouvem suas vozes reproduzidas nas aspas de cada notícia. Há muito a ser contado e mostrado fora das organizações. Talvez por isso tanta gente prefira ler relatos de experiências publicadas nas redes sociais em detrimento da informação apurada e formatada nos portais especializados. Esses relatos transmitem proximidade, identificação, emoções... vidas pulsando.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Perfil: Quando a adversidade oferece asas

Se a vida da jornalista Daliani Ribeiro fosse contada em filme, o primeiro reflexo seria classificar a obra como drama. Mas a mulher que hoje posa para fotos exibindo naturalmente a ausência de um dos braços transformou o que seria drama em renascimento.
O episódio que motivou o nascimento de uma nova Daliani aconteceu em dezembro de 2011. A jornalista sofreu um acidente de ônibus quando seguia de Sorocaba para Florianópolis e teve o braço direito amputado.
Ao relatar o momento em que se deparou com a perda do braço, Daliane deixa a impressão de que havia lido essa página de sua história antes do acidente. “O sentimento que me vinha era de que isso tinha que acontecer”, conta.
A serenidade com que encarou essa etapa levou a uma readaptação natural. “Não houve superação, porque pra mim não houve perda, dor, sofrimento. Aconteceu uma aceitação instantânea. Não tenho a memória de como era viver com dois braços”.
A amputação guiou Daliane ao encontro de uma missão que já lhe inquietava meses antes. “Ajudar as pessoas a mudar a ótica dos problemas”, define. Mesmo antes do acidente, a jornalista já desenhava a criação de uma empresa de treinamento motivacional.
Hoje, ela percorre o estado com a palestra “Transformar Problemas em Oportunidades”, que trata de aceitação e superação. O projeto foi realizado em Mogi Mirim em março, na Estação Educação, e em julho, no Clube Mogiano.
No meio empresarial, Daliani também aborda o teor empático da Inclusão Social e, para instituições de saúde, oferece um relato vivencial sobre a importância do "cuidar" para a recuperação de pacientes em estado grave.
No encerramento do vídeo que abre as palestras, a imagem de uma Daliani refletida na areia ilustra a mensagem que ela vem transmitindo. “Depois de tanto tempo, percebi que minha sombra é única. A minha silhueta não tem mais dois braços. Mas, para que dois braços, se Deus me ensinou a voar?”.
Por enxergar a beleza escondida na simplicidade das coisas, Daliani encontrou a plenitude na adversidade. “Estamos em trânsito entre nascer e morrer. Escolher se vivemos esse trânsito em deleite ou stress, é individual. Tudo passa, inclusive nós mesmos”, encerra, parecendo carregar consigo o sentido da vida, desvendado por poucos.


Publicada na edição 9 da Revista Condomínios da Baixa Mogiana - Agosto/2013


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Texto de revista - Revista Condomínios da Baixa Mogiana



     


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